Vejo um bando de andorinhas
revoando em união,
mas deixando umas sozinhas,
longe do belo verão.
.x.x.x.
Sobre o mar sereno e triste
vou remando à luz da sorte.
Porque ponte não existe
na passagem para a morte.
x.x.x.
Justiça não mete medo
pela palavra que tem...
Dá medo, não é segredo,
é da injustiça de alguém.
x.x.x.
Quando me for desta vida,
não quero choro, senão
uma velinha acendida
com flores soltas no chão!
x.x.x.
Em nossa casa, de outrora,
- quero o teu riso escutar!
Em vez de risos, agora,
ouço um cão triste me uivar...
x.x.x.
Quando me for desta vida:
- lá na supra dimensão
vou cumprir pena contida
já de sentença na mão!
x.x.x.
Meu demônio faz pirraça:
quer usar meu coração...
- Se deixar me faz de graça,
do seu fogo, uma paixão!
x.x.x.
Vou à noite, na janela,
mergulhar na escuridão:
nas sombras o vulto dela
me sossega o coração!
x.x.x.
Do seu posto, à sentinela,
- sobre o teto do galpão,
galo duro de panela,
abre a goela, canta em vão!...
x.x.x.
Vou de braços à bebida,
- já devorei mil barris...
Para que serve esta vida,
se não me fazes feliz!
x.x.x.
Galopei na corda bamba:
- fiz do mundo um desafio...
Sobre a vida que descamba
hoje eu zoa um vento frio!
x.x.x.
Vou remando de partida
num mar imenso de paz...
Mas as ruínas da vida
vão nadando, logo atrás!...
x.x.x.
Bate a chuva na janela,
o seu vento me assobia...
vou morrer tão longe dela:
dessa luz que me alumia!...
x.x.x.
Fico pasmo quando penso
na velhice que chegou:
com demônio nunca venço...
- Meu vigor já me levou!...
x.x.x.
Vinte ou trinta trovadores
no Brasil são verdadeiros,
os outros são impostores:
fantoches aventureiros.
x.x.x.
No sertão, à luz de vela,
vou buscar minha rainha:
- minha vida, vida bela...
Para sempre, toda minha!
Ari Santos de Campos