28 de Junho, 2014

Padre Heriberto José Schmitt também foi um trovador

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Padre Heriberto José Schmitt, pároco e professor de português em Itajaí, também era trovador.

Patrono da Cadeira nº 9, da Academia Itajaiense de Letras, fundada em 10 de junho de 1998, cujo titular da cadeira é o acadêmico Ari Santos de Campos, membro fundador dessa agremiação.

Pe.Heriberto José Schmitt nasceu no Município de Luís Alves, localizado ao norte do Estado de Santa Catarina, no dia 10 de maio de 1916. Era o filho primogênito de Baltazar Ferdinando Schmitt e Ottilia Schmitt, que tiveram ao todo dez filhos - sendo quatro homens e seis mulheres. Sua família vivia basicamente da agricultura, embora seu pai, nas épocas de menor serviço na lavoura, para aumentar seu orçamento familiar, exercia conjuntamente o ofício de carpinteiro. Enquanto menino, padre Schmitt se comportava de forma meio curiosa; não era um menino prodígio, mas, além de muito obediente, destacava-se entre os demais, pela disposição e esforço, tanto na vida estudantil como também na vida familiar. Sua vocação, desde criança, era de ser padre. Um fato curioso aconteceu certa vez, quando cursava o ensino primário em Luís Alves. Enquanto o seu professor tomava a tabuada dos alunos em sala de aula, Heriberto esperava ansioso a sua vez de chamada, mas, no final, isso não aconteceu. Intrigado, dirigiu-se ao professor e perguntou.

- Professor, eu não fui chamado!?

Ao passo que o professor lhe respondeu.

- Ontem, em determinado momento, enquanto eu prossegui no caminho que fica do outro lado do rio, aos fundos de sua casa, eu vi você carregando um balde cheio de água, em uma de suas mãos, caminhando em direção a casa e dizendo, em voz alta, esta tabuada: você dizia, repetidamente, desde a beira do rio até a porta de sua casa, toda tabuada, e sem errar uma só vez. Então hoje você não precisa me dizer a tabuada, porque eu já constatei que você sabe, e sabe muito bem a tabuada.

Dessa forma, enquanto ele ajudava a mãe, com as tarefas de casa, exercitava o que lhe era ensinado nas aulas. Certamente por isso ele se destacava entre os colegas de aula.

Aos 11 anos de idade, depois de concluído o ensino primário, seu pai o matriculou no Colégio Interno “São Paulo” da cidade de Ascurra, em Santa Catariana. Isso aconteceu no dia 16 de fevereiro de 1927, onde lá concluiu o Ginásio e também o Científico.

Em seguida, entre 27 de janeiro de 1933 e 27 de janeiro de 1934, fez o noviciado em Campinas/SP. Ao terminar esse curso ingressou na Ordem da Congregação Salesiana “Dom Bosco” onde professou os primeiros votos trienais. Cursou a Faculdade de Filosofia em Lavrinhas/SP, entre os anos 1934 e 1935. Fez o tirocínio (prática da vida salesiana) nos anos 1936 a 1938 em Campinas/SP. Finalmente, entre 1939 e 1942 cursou Teologia no Instituto Teológico Salesiano Pio XI, na Lapa/SP, quando, então, viu realizado o grande sonho de sua vida. Tinha 27 anos de idade quando recebeu a ordenação sacerdotal pelas mãos de Dom José Gaspar, em São Paulo, no dia 08 de dezembro de 1942.

Padre Heriberto José Schmitt, ao longo de sua vida sacerdotal, exerceu diversos cargos importantes, tais como: Coordenador de estudos e disciplina, no Seminário Salesiano de Lavrinhas/SP, em 1943. Em seguida foi coordenador de Educação Religiosa no Colégio Salesiano de Niterói/RJ, no período de 1944 a 1947, e coordenador de estudos e disciplina no mesmo colégio em 1948. O mesmo cargo passou a exercer em Vitória (ES), no colégio Salesiano, de 1949 a 1952. Trabalhou no Colégio Dom Helvécio, em Ponta Nova (MG) e São Pedro dos Ferros (MG) de 1952 1967. Em 1968 foi transferido para Itajaí onde integrou a Comissão Municipal de Cultura e fundou diversas agremiações literárias e esportivas, sendo também idealizador da campanha do Presépio Natalino nos Lares e incentivador da Associação dos Devotos de Nossa Senhora Auxiliadora, ligada ao Colégio Salesiano. Durante longo período atuou como conselheiro espiritual do Clube Náutico Marcílio Dias. Especial atendimento sempre deu à Capela São Judas Tadeu, na Paróquia Salesiana de São João Bosco, em Itajaí.

Padre Schmitt exerceu o magistério por mais de 50 anos, dos quais, 21 no Colégio Salesiano de Itajaí, onde lecionou Latim, Religião, Literatura e, principalmente, Língua Portuguesa, sua especialidade. No dia 08 de dezembro próximo completaria 50 anos de Sacerdócio, dos quais, 25 anos vividos em São Paulo, Rio de Janeiro, Espirito Santo, Minas Gerais e o restante em Itajaí, onde, em 1988, recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadão Honorário Itajaiense.

Finalmente, depois de longa luta conta problemas cardiovasculares, prestes a completar 76 anos de idade, no dia 05 de maio de 1992, numa casa onde morava desde 1991, no Parque Dom Bosco, em Itajaí, morre Heriberto José Schmitt, um grande mestre e competente padre.

O seu velório foi realizado na Capela do Colégio Salesiano no dia 06 às 16 horas e a missa, de corpo presente, presidida pelo Arcebispo Emérito de Florianópolis, dom Afonso Niehues, concelebrada pelo Inspetor Salesiano pe.Helvécio Baruffi e com a participação de outros 28 sacerdotes salesianos e diocesanos.

Centenas de pessoas, entre elas, muito de seus parentes, acompanharam as solenidades fúnebres, prestando as últimas homenagens ao pe.Heriberto José Schmitt, cujo corpo foi sepultado ao lado dos restos mortais do pe.Pedro Baron (fundador da obra salesiana em Itajaí) no cemitério municipal do bairro da Fazenda.

Jornais de Itajaí e Região fizeram a cobertura dos acontecimentos, conforme nota publicada pele pe.Licério J. Spesia, diretor do Colégio Salesiano de Itajaí.

No final da tarde do dia 05 de maio, pe.Décio Bona usa do telefone para dar a notícia do falecimento do padre Schmitt, no Parque Dam Bosco, na casa onde estava morando desde maio de 1991. Seu coração, já bastante debilitado pela longa doença que vinha enfrentando, parou definitivamente.

Padre Heriberto, há alguns anos, vinha enfrentando problemas sérios de saúde. Submetido à cirurgia delicada na perna, várias ameaças de enfarte e problemas de pulmão, passou os últimos anos internando em vários hospitais; Porto Alegre, Blumenau e por último em Itajaí, no Marieta Konder Bornhausen, onde ficou de 02 a 21 de abril. Foi bem atendido pelo hospital, pelas irmãs, enfermeiros e pelo doutor Garcia, seu ex-aluno. As visitas de parentes e amigos foram constantes e conformadoras para o padre.

Nos últimos tempos já tomava consciência da gravidade de seu estado de saúde. No dia 06 de abril, pela manhã, sentindo-se muito fraco, pediu à irmã Giovane, diretora do hospital, que chamasse outro padre para ministrar-lhe a Sagrada Unção dos Enfermos e Comunhão Eucarística. Recebeu com muita piedade e lhe agradecia constantemente. Aos poucos foi se recuperando e, com muita dificuldade, no dia 21 de abril recebeu alta do hospital.

Mas o padre Schmitt amava a vida. Queria celebrar, no dia 08 de dezembro, suas Bodas de Ouro sacerdotais. Desde dezembro de 1991, a cada dia 08, de cada mês, fazia questão de realizar “comemoração de ação de graças preparatória”, como dizia. Comemorava a vida. Ainda pela manhã e na tarde do dia que faleceu, andava pela cidade, preparando a festa de seu aniversário, que seria no dia 10 (domingo), queria realiza-la em Luís Alves, sua cidade natal, na Capela Dom Bosco de Canoas e na Gruta de Dom Bosco que ele mesmo construiu, junto a onde nasceu.

Gostava de festas, de alegria, de música e esporte. Grande torcedor do Marcílio Dias, o principal time de futebol de Itajaí. Mas o padre não descansava, estava sempre em movimento, e nem parava para tomar os cuidados necessários à sua saúde, a não ser quando internado em hospitais, e mesmo assim não tinha paciência para se acomodar.

E, logo depois da sua morte, em Porto Alegre/RS, o Jornal “SINTONIA” da Inspetoria Salesiana (ANO XXII Maio de 1992 – Nº 95), publicava a seguinte nota: 

FALECEU PE. HERIBERTO 

Queremos testemunhar que o pe.Heriberto José Schmitt morreu “vivendo a festa”! Morava ultimamente no Parque Dom Bosco por questões de saúde (menos escadas). A partir do último internamento, em abril, estava muito mais calmo e tranqüilo. Nas vésperas e no dia da morte, 05.05.92, andava às voltas organizando suas festas: a do dia 8, Sexta comemoração de “ação de graças” pelos próximos 50 anos de sacerdócio, e a do dia 10 de maio, para comemorar seus 76 anos de vida. Seria em Luiz Alves, convidava todos. Queria festa grande! Porém, no final da tarde, um mal súbito interrompeu os preparativos. Partiu em festa, sereno e, pelo que pudemos constatar, faleceu sem ter sofrido espécie alguma de agonia. No dia das mães celebrou seu aniversário com sua mãezinha, na plenitude!

Agradecemos aos irmãos salesianos, irmãs salesianas, parentes e amigos pela presença, pelo apoio e pelas preces.

Uma das obras de autoria do padre Heriberto José Schmitt:

 

Cidade entre mil outras de cantadas,
Infindas, atraentes, surge airosa,
De magia aureolada e esplendorosa,
A sonhar um porvir no amor das fadas.

Da crença e da cultura já irmanadas...
Erguida junto à onda preguiçosa,
Dum rio e de alva praia em que se goza,
Entre as vagas do mar alvoraçadas. 

Inspiração fecunda e palpitante,
Toda tecida em cores emotivas,
Ante os barcos bailando aqui e ali... 

Jóia rica dum vale verdejante,
Aspiração em flores sempre vivas
Ideal de progresso...  Itajaí!

pe.Heriberto José Schmitt

 


Seu sonho, a terra natal,
a terra do sonhador,
em busca do seu ideal
foi padre e bom trovador. 

Ari Santos de Campos