31 de Maio, 2012

Trovas Corriqueiras

Categorias: Trovas

Vejo um bando de andorinhas
revoando em união,
mas deixando umas sozinhas,
longe do belo verão.

.x.x.x.

Sobre o mar sereno e triste
vou remando à luz da sorte. 
Porque ponte não existe 
na passagem para a morte.

x.x.x.

Justiça não mete medo
pela palavra que tem...
Dá medo, não é segredo,
é da injustiça de alguém.

x.x.x.

Quando me for desta vida,
não quero choro, senão
uma velinha acendida
com flores soltas no chão!

x.x.x.

Em nossa casa, de outrora,
- quero o teu riso escutar!
Em vez de risos, agora,
ouço um cão triste me uivar...

x.x.x.

Quando me for desta vida:
- lá na supra dimensão
vou cumprir pena contida
já de sentença na mão!

x.x.x.

Meu demônio faz pirraça:
quer usar meu coração...
- Se deixar me faz de graça,
do seu fogo, uma paixão!

x.x.x.

Vou à noite, na janela,
mergulhar na escuridão:
nas sombras o vulto dela
me sossega o coração!

x.x.x.

Do seu posto, à sentinela,
- sobre o teto do galpão,
galo duro de panela,
abre a goela, canta em vão!...

x.x.x.

Vou de braços à bebida,
- já devorei mil barris...
Para que serve esta vida,
se não me fazes feliz!  

x.x.x.

Galopei na corda bamba:
- fiz do mundo um desafio...
Sobre a vida que descamba
hoje eu zoa um vento frio!

x.x.x.

Vou remando de partida
num mar imenso de paz...
Mas as ruínas da vida
vão nadando, logo atrás!...

x.x.x.

Bate a chuva na janela,
o seu vento me assobia...
vou morrer tão longe dela:
dessa luz que me alumia!...

x.x.x.

Fico pasmo quando penso
na velhice que chegou:
com demônio nunca venço...
- Meu vigor já me levou!...

x.x.x.

Vinte ou trinta trovadores
no Brasil são verdadeiros, 
os outros são impostores:
fantoches aventureiros.

x.x.x.

No sertão, à luz de vela,
vou buscar minha rainha:
- minha vida, vida bela...
Para sempre, toda minha!

Ari Santos de Campos